CARMEN PICHEL

BIOGRAFIA

Nasceu em Ilha Cristina (Huelva), Espanha e residente em Portugal.

Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –Prof. Pintor Gil Teixeira Lopes. Vários cursos na S.N.B.A.: “ Iniciação à Pintura ” , “ Curso Complementar de Pintura ” e Atelier (1990-1991-1992) – Pintor Jaime Silva e Pintor Mário Rita.“ Temas de Estética e História da Arte Contemporânea “ (Dra. Cristina Azevedo e Dra. Cristina Veiga Simão). “ A Problemática da representação e da Significação na Estrutura da Obra de Arte “ (Dr. David Lopes).

Sócia da Sociedade de Belas Artes de Lisboa e do Grupo de Artistas Plásticos da Amadora “Artever”.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1993 – 1994: Instituto Cervantes de Lisboa.

1995: Galeria Municipal de Rio de Mouro.

1998: Espaço Atrium Saldanha.

2000: Galeria Artistudio – Milão (Itália) - Memórias.

2002: Sociedade Nacional de Belas Artes - Alquimia.

2003: Centro Cultural do Banco CaixaNova – Vigo (Espanha) - Metáforas.

2005: Biblioteca-Museu República e Resistência – Presenças.

2008: Galeria Espaço Artever (Amadora) – Propostas.

2013:  Sociedade Nacional de Belas Artes – Os Objectos também falam.

2015: Galeria Espaço Artever (Amadora) – New Look Art

2016: Càmara Municipal de Lisboa,  Centro de Documentyação  - “O Murmúrio dos Objectos”

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS (SELECÇÃO)

1963: II Exposição de Artes Plásticas da Amadora.

1990: Salão Convívio SNBA.

1992: Centro Cultural de Malaposta; Junta de Turismo Oliveira do Hospital.

1994: Galeria Espaço Veredas (Sintra); Casa de Malta (Óbidos) – trabalhos relizados neste local; Galeria Municipal Gymnásio (Lisboa); 1º Prémio Desenho Barreiro 94.

1995: Grand Prix Academie Europeenne des Arts (Bruxelas); Grand Prix  International Paris 95; Solar de Santa Maria (Óbidos); Criativarte 95 (Reguengos de Monsaraz); VIII Bienal Internacional de Arte Vila Nova de Cerveira; Capela Real de Salva Terra de Magos; Galeria Municipal de Rio de Mouro.

1996: Europe en Montmarte (Paris); Artever 15ª Exposição de Artes Plásticas, Câmara Municipal da Amadora, (Artista convidada); Galeria Municipal de Rio de Mouro (3º Aniversário); S.N.B.A. (Salão Convívio).

1997: “Obras sobre Papel” (S.N.B.A.); IX Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira; Convento Espírito Santo (Loulé); Capela Real de Salva Terra de Magos; S.N.B.A. (Salão Convívio).

1998: XX Salón de Otoño de Pintura de Plasencia (Espanha) e convidada por esta Instituição para a exposição itenerante a realizar em Espanha e Portugal até Julho de 1999; Galeria J. C. “ Evento I “ (Leiria); 2º Prémio de Desenho “ Américo Marinho “ (Barreiro); Galeria Minicipal de Rio de Mouro “ Rios, Mares e Oceanos” ; II Bienal de Artes do Alentejo; Forma e Síntese ( Espaço Atrium Saldanha); S.N.B.A. ( Salão Convívio).

1999: Galeria Artistudio em Milão; Sede da Caixa Geral de Depósitos (Agriculturas); Galeria Minicipal de Fitares ( Encontro Anual de Artistas Plásticos); Bienal Internacional de Vendas Novas; Exposição de Pintura da Festa do Avante ( Convidada ); S.N.B.A. ( Salão Convívio).

2000: XXII Salón de Otoño de Pintura de Plasencia ( Espanha) ; Exposição Internacional de Vila Real de Santo António; VI Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas; Galeria Artistudio em Milão.

2001: Lapa Galery ( Lisboa); Galeria Artistudio em Milão; S.N.B.A. ( Salão Convívio).

2002: Galeria Municipal de Fitares ( Câmara Municipal de Sintra ); S.N.B.A. ( Salão Convívio); Galeria Municipal de Fitares ( Encontro Anual de Artistas Plásticos ).

2003: Monumento dos Descobrimentos, Exposição a favor da Associação Acreditar; Galeria Municipal de Fitares ( Encontro Anual de Artistas Plásticos ); XIII Bienal Internacional do Avante ( Convidada); S.N.B.A. ( Salão Convívio ).

2004: Galeria Municipal de Fitares ( Sintra); Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea ); Biblioteca Municipal “ Por Timor “; S.N.B.A. (Salão Convívio ).

2005: Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea); Galeria Municipal de Fitares – C. M. Sintra - ( Encontro Anual de Artistas Plásticos ); S.N.B.A. (Salão Convívio ).

2006: Galeria MAC ( Movimento de Arte Contemporânea ); Galeria Municipal de Fitares - C. M. Sintra - (Encontro Anual de Artistas Plásticos); Galeria LM – “Formas de Ver”; Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea) – “Três Pintores”; S.N.B.A. (Salão Convívio).

2007: Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea); Galeria Galveia; Galeria Municipal Fitares -C. M. Sintra - (Encontro Anual de Artistas Plásticos); XIII Aniversário da Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea); S.N.B.A. (Salão Convívio).

2008: Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea); Galeria LM (Sintra); Galeria Fitares – Encontro Anual de Artistas Plásticos; S.N.B.A. (Salão Convívio).

2009: Galeria MAC (Movimento de Arte Contemporânea); Câmara Municipal de Sintra – XVI Encontro Anual de Artistas Plásticos; Galeria Aberta – Beja; Galeria LM (Sintra) – Colectiva de Verão; MAC (Movimento da Arte Contemporânea) – Festa da Língua Portuguesa na Biblioteca Municipal de Peso da Régua; S.N.B.A. (Salão Convívio).

2010: Centro de Arte Contemporânea de Amadora – Comemoração de 25 anos do Grupo Artever; Grupo Artever – Exposição Pequenos Formatos; Casa Roque Gameiro (Amadora) – Exposição Aguarelas Grupo Artever; Galeria LM (Sintra); Instituto Espanhol de Lisboa – “Encuentros Ayer y Hoy”; XVII Encontro Anual de Artistas Plásticos – Câmara Municipal de Sintra; S.N.B.A. (Salão Convívio).

2011: Centro Comunitário de Campo Maior – Grupo Artever; Galeria LM (Sintra); Galeria Juca Claret (Madrid); Feira de Arte “Arteando” (Irun – Espanha) a convite da Galeria Juca Claret; Salão Convívio S.N.B.A..

2012: Galeria LM (Sintra) ; Galeria Juca Claret (Madrid).

2013: Galeria LM (Sintra) – Colectiva de Verão; Galeria Juca Claret (Madrid) Bodegones.

2014: Feira de Arte Almoneda (Madrid) representada pela Galeria Juca Claret; “Portugal em Abril” Galeria Municipal Artur Bual (Amadora); “Mertolarte” Câmara Municipal de Mértola; “Exposição Colectiva de Sócios Artever” Galeria Municipal de Aljezur; “Exposição Arte Hoje” S.N.B.A.; “Homenagem a José Pádua” Galeria Municipal Artur Bual (Amadora).

2015: Galeria LM (Sintra); Galeria Espaço Artever  (Amadora); Galeria MAC

2016: XXII Aniversárioda Galeria  MAC Movimento Arte Contemporânea; Galeria LM (Sintra); Exposición Internacional de Arte Postal “ Confidencias Mudas” – Tudela e Logroño; Galeria Artur Bual, Homenagem a Fernanda Páscoa

Filmografia

Um filme, realizado por Álvaro Queiroz em Outubro de 2009, no meu atelier, consta no Arquivo da Cinemateca Portuguesa – ANIM – Arquivo Nacional das Imagens em Movimento.

Prémios

  • Grand Prix Européenne des Artes – Medalha de Bronze - 1995

  • Criativearte 95 – Reguengos de Monsaraz – Menção Honrosa.

  • Grand Prix International de Paris 1995 – Medalha de Ouro.

  • Prémio Salão dos Sócios da S.N.B.A. em 1999.

  • Representada no Museu da Cidade de Lisboa, Instituto Cervantes de Lisboa, Câmara Municipal de Sintra, Sede do Banco CaixaNova em Vigo e em colecções particulares em Portugal e no Estrangeiro.

 

COMENTÁRIOS



Comentário da Dra. Cristina Azevedo Tavares (Doutorada em História de Arte e Crítica de Arte)

As naturezas-mortas de Carmen Pichel não se confinam à definição usual. Não cumprem igualmente um papel de exercício académico, nem tão pouco se fixam meramente num valor decorativo.

Reenviam à tradição da pintura ocidental na referência analítica do objecto, na decifração do seu volume, na possível funcionalidade do mesmo em tarefas simples e úteis. Por outro lado, são objectos inventados, feitos de partes de outros, tratem-se de vasilhas, potes, tigelas, garrafas, frascos, ânforas, lamparinas de azeite, ou alambiques utilizados nas práticas de alquimistas ou em laboratórios sem idade.

A esta inventividade associa-se o sinal do absurdo. Este passa pela protagonização que estes objectos, contentores de líquidos, desempenham em cada quadro. Ora perfilando-se simetricamente em prateleiras e armários de rigor geométrico, ora amontoando-se tragicamente numa ampliação excessiva, como a sugerir que uma mão vinda de fora para dentro do quadro, os ajuste e novamente  os deixe respirar.

É portanto a expressão de sentimentos que estas composições de objectos transformados em seres transmitem, não se conotando com a perspectiva de Morandi. Da tranquilidade à intranquilidade, do equilíbrio  ao desequilíbrio, estes objectos são portadores de memórias, evocando momentos de violência e  momentos de ternura. Podendo até, como certos ícones, protagonizar o sagrado sobre uma superfície azul (lembrando a luz da pintura de Barceló), vibrando o ouro da superfície que os limita.

Estas naturezas-mortas transformam, por processos alquímicos que permanecem secretos, os objectos em seres anímicos portadores de vivências diversas, expressando um modo de estar e de sentir que não é alheio à matéria de que são feitos: com texturas e fibras atestando a idade, ou lisas como o vidro, vinculando-se ao perfil da eternidade.

Sobre estes segredos nada saberemos, a não ser pelos quadros de Carmen Pichel.


Cristina Azevedo Tavares, Outubro de 2002
*Cristina de Sousa Azevedo Tavares é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa (1980). Realizou o Mestrado em História de Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1984) e doutorou-se em História de Arte Contemporânea na mesma Universidade (2000). É Professora Associada da Faculdade de Belas Artes de Lisboa onde lecciona as áreas de estéctica, teoria de arte e história de arte contemporânea (licenciaturas e mestrados). É membro integrado do CFCUL e colaboradora do Projecto FCT ‘A imagem na Ciência e na Arte’.


Comentário da Dra. Filomena Serra (Doutorada em História de Arte Contemporânea)
Carmen Pichel - «Os Objectos também falam»


Podemos dizer que este texto também se podia intitular «Do amor da Pintura», porque de amor se trata. Amor pela pintura e pelos objectos representados. Mas também um desafio para quem vê: ascética, quase mística, feita de longas horas de solidão. Desde há vários anos que a pintora tem como tema de eleição a representação de objectos aparentemente inertes, mudos e estáticos. Pinturas que representam potes, vasos, taças, pratos, tigelas, jarras, ânforas ou garrafas. As últimas das quais nos trazem outros objectos, talvez mais femininos e familiares, como panelas, funis ou açucareiros. Porém, a sua representação obedece a uma ordem que é a da experimentação. Como é que Carmen Pichel experimenta? Elegendo um objecto como origem da imagem. Depois, começando a fazer uma variação sobre essa imagem; repetindo o objecto ou associando-o a outros. Assim, constrói uma variação sobre as imagens que figura, fazendo séries. É a série das «Presenças», a dos «Amontoados» ou a de «Delphos».

Os objectos que Carmen privilegia nessas representações têm a ver com o seu gosto subjectivo, com os acidentes da sua vida afectiva e com os seus gostos picturais. Deste modo, o seu método criativo transforma lentamente os objectos em pintura, em figuras elaboradas que surgem do vazio da tela, por vezes num vazio primordial, onde uma imensa leveza deixa adivinhar o gesto da pintura. Carmen não pinta objectos mas sim «presenças». Não admira que uma das séries que apresenta nesta exposição tenha esse título. São «presenças» porque os objectos representados indicam uma atmosfera, um excesso e uma intensidade que reconhecemos na sua percepção.

Para lá do visível, emana deles a força das figuras, uma força e uma pregnância que não é localizável, mas que se impõe ao olhar.

A verdade é que Carmen pinta os seus objectos de um modo tão singular que das suas formas faz nascer forças invisíveis, ou seja, figuras que ganham contornos e dinamismo. É isto a pintura. Uma poderosa máquina de fabricar percepções. Por essa razão, estas pinturas à primeira vista só aparentemente parecem nada dizer. Mas que vemos quando os olhos se habituam? A luz que paira ou ilumina os objectos desfaz-se em brilhos, fulgurações, mais ou menos fátuas, sombras que criam ambientes e formas negras. São também situações, conversas, memórias, retratos de amigos e, até, auto-retratos. Por isso, as séries de Carmen vão muito além de experiências formais. Se é certo que elas lhe servem para experimentar cor, texturas, escalas e formas nas superfícies arredondas, lisas, texturadas, côncavas e convexas, a verdade é que ela leva o ar e a luz na ponta do pincel, fabricando atmosferas, pintando a pele de corpos, fragmentos de recordações, breves cintilações, memórias de entes queridos, a vida e a morte. Trata-se de uma longa conversa consigo mesma.

Toda a intriga destes objectos se joga num espaço fictício, numa cena inventada em que parecem murmurar entre eles, ou estar simplesmente, arrumados, amontoados, empilhados, envolvidos uns nos outros. Aproximam-se e tornam-se instáveis, ou estão aglomerados ou formam tramas, avançam e deslizam. Dizer que criam relações espaciais entre a figura e o fundo, o alto e o baixo, o vazio e o cheio, é uma banalidade. Talvez Carmen não pinte objectos nem coisas. Ela mostra simplesmente o princípio metafísico do nada, que é o jogo do tempo e da existência. Por essa razão os seus objectos falam. Falam entre eles e falam para nós.

São simultaneamente metafísicos com as suas «presenças». Figuras ou Entidades, as coisas transformam-se em seres que esperam o Amanhecer, os títulos destas pinturas indicam como neles podemos projectar sentimentos e emoções ou simplesmente visões. Também podem ser Acrobatas ou, por exemplo, estabelecer uma Conversa, como na série dos «amontoados». Ou dizer da eternidade como as ânforas, que permanecem esquecidas e submersas no fundo do mar, vivendo uma outra vida, quase a eternidade, como a série de «Delphos». Presenças chiriquianas, estes objectos perdem todo o significado daquilo que são fora da tela. Objectos imaginários que parecem ter vida própria, eles adquirem a consistência de personagens de um «teatro dos objectos» ou de um verdadeiro «teatro do mundo». Por essa razão, Carmen gosta da frase de Henri Focillon que diz n’ A Vida das Formas: As formas que vivem na matéria não viverão, em primeiro lugar, no espírito? Ou antes, não será que elas vivem verdadeiramente e talvez mesmo unicamente no espírito, não passando a sua actividade exterior do reflexo de um processo interno? É verdade que as formas que vivem no espaço e na matéria também vivem no espírito…

Ao olhar estas pinturas com as quais convivo e admiro há muitos anos, atrevo-me a dizer que Carmen Pichel pinta sempre o «mesmo quadro», isto é, a mesma metáfora existencial. E não será isso que todos os pintores fazem?


Drª. Filomena Serra, 13 Dezembro de 2012
* Filomena Serra doutorou-se em História de Arte Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O tema da sua tese de Mestrado incidiu sobre ‘A obra de Ângelo de Sousa – Pintura e objectividade. Foi bolsista da FCT. No âmbito da História da Arte Contemporânea tem realizado inúmeros seminários na Universidade Nova de Lisboa e participado em colóquios. É assistente conferencista na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

 

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